quarta-feira, 30 de julho de 2014

O Verão aqui

Quando estava no Brasil, eu escrevi um post sobre o Inverno chamado O Inverno aqui. A idéia foi falar sobre o Inverno estando num país quente. Agora chegou a hora de fazer o contrário, falar sobre o Verão em um país frio.

Vamos começar com a listinha básica das características principais e curiosas:

  • O Verão é curto, dura uns dois meses. Começa mais ou menos no fim de Junho e vai até o fim de Agosto
  • Grande parte dos dias são quentes como no Brasil: passa dos 30C e é muito humido. No geral é difícil cair para menos de 20C, embora este ano o Verão está bem fresco e tem noite onde a tempetura cai p/ uns 15C
  • Os dias são bem longos no Verão, o sol começa a se por lá pelas 20:00h. No pico do Verão tem dia que às 21:00h ainda está claro
  • Verão é época de férias escolares e muita gente tira férias no trabalho também

OK, então o que o povo faz para aproveiar o Verão aqui? Basicamente, tem muita "praia", piscina, churrasco, esportes ao ar livre, shows e viagens.

"Praia" e piscinas

Lembro do nosso primeiro Verão quando um nativo disse "ah, hoje o dia está bom para ir à praia" eu pensei "hein? Praia? Tem praia aqui?!". Bom, mais ou menos :) O que eles chamam de praia são basicamente lagos ou rios. E as pessoas aproveitam como nós aproveitamos as praias no Brasil.




Duas diferenças interessantes. Primeiro, a água varia entre um pouco fria e muito fria. No pico do Verão, fazendo mais de 30C e com a humidade lá em cima, a água vai estar bem fresca e é muito gostoso nadar. Porém, no começo e no final do Verão a água vai estar fria ou muito fria. Eu consigo nadar, mas tem brasileiro que não chega nem perto. A segunda diferença interessante é que em muitos lugares é permitido fazer churrasco na "praia" com uma churrasqueira portátil (a qual é comum aqui), isso é muito banaca. Às vezes você vê famílias inteiras reunidas p/ um churrasco (mais sobre churrasco abaixo).

Outra atividade áquatica são as piscinas. Aqui em Gatineau, a prefeitura mantêm várias piscinas exteriores que são totalmente grátis para qualquer um. Não pense que por ser público é ruim, aqui não é Brasil :) As piscinas tem salva vidas e são muito bem mantidas. Não tenho fotos, pois não é permitido tirar fotos lá.

Nossa atividade principal no Verão é nadar. Nós nadamos praticamente todo dia, normalmente na piscina que tem perto de casa.

Churrasco

Ah, o Churrasco. Não tem coisa melhor do que andar a pé pelo bairro durante a Primavera e sentir aquele cheiro de Churrasco. É um cheiro que diz "O Inverno passou, o Verão está chegando".

O povo aqui faz muito churrasco. Porém, o churrasco padrão é aquele de filme americano: humburger e salsicha. Embora eu prefiro o nosso churrasco não acho o churrasco deles ruim. Não pense que a salsicha que eles assam é aquela salsicha sem marca do açougue da esquina. Aqui tem salsicha 100% carne, salsicha com cheddar, salsicha com jalapeno e várias outros tipos que eu tenho certeza que você nunca experimentou. O mesmo vale para o hamburger.



Outro detalhe interessante é que a maioria das churrasqueiras aqui são à gás. Lembre-se, o canadense gosta de coisa prática, simples e rápida. O churrasco deles fica pronto em 15 minutos.



Por outro lado, somos livres para fazer um churrasco brasileiro. Se você preferir, também existem churrasqueiras a carvão. Se você estiver na região de Ottawa/Gatineau, tem picanha a $20 dólares o kilo no Farmboy da Marivele (é só ir no açougue e pedir o corte brasileiro). Aqui em Gatineau é fácil achar coração de galinha nos supermercados e você também encontra franguinho e os cortes de boi daqui. A única coisa que ainda não encontrei foi uma linguicinha. O mercado Português em Ottawa vende algo que eles chamam de linguiça, mas eu não gostei.



Ainda no tema churrasco, aqui no Québec é permitido fazer churrasco na varanda para quem mora em apartamento. É onde eu faço os meus com minha churrasqueira portátil a gás. E finalmente, alguém tinha me dito que aqui não teria o limão verde do Brasil e eu teria que fazer caipirinha com o limão amarelo. Falou merda :)




Esportes ao ar livre

Todos aqueles esportes que conhecemos são praticados aqui no Verão: volei, futebol, basquete, ciclismo e etc. Muita gente que nunca praticou nada no Brasil chega aqui e pratica algo. Primeiro porque tem mais tempo, e segundo que aqui tem um certo incentivo à prática de esportes.

Uma das atividades mais comum é pedalar. Na nossa região tem muita ciclovia e o trânsito é relativamente bem preparado para receber o ciclista. Tem brasileiro que começa simples e depois de alguns anos vira ciclista sério.


O ciclismo não é um esporte exclusivo de Verão. É possível pedalar no Outono e na Primavera, mas nem todo mundo vai pedalar quando começa e esfriar e poucos usam a bicicleta no Inverno.

Viagens, shows e eventos

Para finalizar o Verão é a época em que muita gente viaja, tem muitos shows e eventos. Por exemplo, o dia do Canadá acontece no Verão. Em Montréal tem muito show de rock e por aí vai.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A melhor e a pior época para chegar

Eu sei. A ansiedade para sair do Brasil é praticamente incrontolável. Nossa vontade é de ir para o aeroporto no mesmo dia em que recebemos o passaporte. Mas cuidado, esse desespero pode prejudicar sua imigração. O melhor é planejar bem a melhor época para chegar aqui para assim aproveitar ao máximo os primeiros meses.

Para mim, a pior época para chegar é entre o Outono e o fim do Inverno. Ou seja entre Outubro e fim de Fevereiro. Pelos seguintes motivos:

  • Nas primeiras semanas de Canadá, temos um milhão de coisas p/ fazer (documentação, carro, escola p/ os filhos, moradia, etc). Essas tarefas podem ser cansativas e estressantes, o Inverno só vai deixar tudo mais difícil. Tanto no sentido psicólogico quanto a locomoção física
  • O primeiro inverno é caro. Se já não bastasse todos os  gastos da chegada, você vai ter que ir atrás e gastar com roupas de inverno e alguns aparatos. Você não vai saber ao certo o que comprar e onde comprar, o que provavelmente vai contribuir para gastar mais
  • Os dias são curtos no inverno, entre 16:00h e 17:00h já está à noite
  • O Inverno exige uma certa preparação, aqui o povo faz tudo com antecêndia. Se você chegar no Inverno não vai ter tempo p/ se preprar
  • Já ouvi mais de um caso de famílias que chegaram durante o Inverno e voltaram p/ o Brasil antes do Inverno terminar

Não quero passar a impressão errada sobre o Inverno. Como comentei no post sobre atividades de inverno, meu primeiro inverno foi bom. Mas a questão não é se o Inverno é bom ou ruim, a questão é que chegar no Inverno não vai te ajudar em nada.

Nós recebemos os vistos em Dezembro e esperamos quase 3 meses para ir (e ainda acho que deveríamos ter esperado mais umas 3 semanas). Passar o fim do ano no Brasil foi muito útil: fizemos tudo com calma, aproveitamos as festas de fim de ano p/ nos despedir e viajamos um pouco também.

OK, então se eu não recomendo chegar no Inverno você deve estar pensando que o Verão é a melhor época, certo? Não. Digo, se você tiver que escolher entre o Inverno ou Verão sem dúvida nenhuma eu recomendo o Verão. Porém, o Verão tem duas desvantagens. Primeiro, é a época de férias então algumas coisas (como procurar emprego) pode ser um pouco mais lento. Segundo, se você nunca visitou outro país na sua vida o Verão pode dar uma impressão errada sobre o Canadá, pois é quente como o Brasil. Mas só dura dois meses.

Para mim, a época ideal para chegar é durante a Primavera, talvez apartir do fim de Março. Pelo seguintes motivos:

  • Muito provavelmente você já não vai pegar tempestades de Inverno e toda a neve acumulada durante o Inverno vai estar derretendo. Isso dá uma pequena imagem mental do que é o Inverno e do que esperar no fim do ano
  • Você tem na sua frente Primavera, Verão e o Outono antes do próximo Inverno. Você vai ter a oportunidade de ver todas as transformações e tempo para resolver tudo o que tem que ser resolvido. Você também vai saber onde comprar roupas de Inverno com preço bom
  • Primavera é a época das vendas de garagem

A venda de garagem merece um parágrafo único. No Canadá existe uma cultura de passar para frente o que não se usa mais, desde que esteja em bom estado. Durante a Primavera o povo começa a fazer grandes limpezas em casa e separa coisas p/ vender. Eles vão para a garagem ou para lugares designados pela prefeitura e vendem de tudo por preços incrivelmente baratos. Aqui vai uma foto da venda de garagem organizada em nosso bairro este ano:


Você realmente encontra de tudo: móveis, roupas, artigos de cozinha, quadros e às vezes eletrônicos. Isso é ótimo para quem acabou de chegar e está querendo economizar. Nós compramos muitas coisas em vendas de garagem. Basicamente toda roupa que nosso filho usou no verão do ano passado veio de venda de garegem. Alguns móveis nossos também.

Algo que vale ressaltar é que a cultura aqui é diferente. No Brasil comprar coisa usada é para pobre. Aqui não é assim. A maioria da população aqui é classe média e mesmo assim eles compram nas vendas de garagem. Enfim, vendas de garagem são ótimas.

Se tudo o que eu disse não convenceu, ou se a ansiedade é tão grande que você não consegue esperar e vai chegar durante o Inverno. Então venha! Não é porque chegou no Inverno que vai dar errado!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Canada Day

Na última terça-feira, dia primeiro de Julho, foi o Canada Day ou Fête du Canada em Francês. Em Português eu uso a tradução literal do Inglês, que seria Dia do Canadá. O Dia do Canadá comemora a criação do Canadá como país, o que aconteceu em 1867.

O Dia do Canadá é o feriado mais importante do ano. Em Ottawa a festa é bem grande. As ruas em torno do parlamento são fechadas, vai muita gente para a rua (a maioria vestindo vermelho e branco), grande parte das casas penduram badeiras do Canadá, as pessoas dizem "happy Canada day for you" umas para outras e por aí vai.






Eles montam um palco na frente do parlamento, onde tem shows e atrações o dia inteiro. A atração final acontece às 22:00, quando tem queima de fogos.





Esse foi o nosso segundo Dia do Canada. No ano passado nós passamos o dia inteiro no centro de Ottawa, curtindo os shows e conferindo a animação das pessoas. Vimos a queima de fogos na rua Wellington (a rua do parlamento). Este ano nós ficamos apenas algumas horas no centro e depois fomos para a casa de um amigo canadense, e vimos apenas a parte final da queima de fogos em uma rua próxima da casa dele.

Algo que me pergunto é se o resto do Québec comemora o Dia do Canadá. Eu sei que em Montréal tem festa também. Aqui em Gatineau é um pouco morto, mas tem atrações no Parque Jacques-Cartier e dizem que o melhor lugar para ver a queima de fogos é no museu canadense de história (antigo museu da civilizações), o qual fica em Gatineau. Mas claro, a grande festa é em Ottawa.

É incrível ver como a população ama este país, e não precisa ter nenhum evento esportivo para isso.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Primeiro inverno: atividades de inverno

O verão acabou de começar e eu venho aqui falar de inverno!?

Sim, não posso deixar passar. Primeiro porque eu tenho que documentar nosso primeiro inverno, segundo porque o inverno é uma das características que define o Canadá.

Eu pensei por bastante tempo como iria escrever este post, pois a grosso modo o inverno tem dois lados. O lado difícil, das temperaturas baixas e dos vários tipos de tempestades e suas consequências. E o lado divertido, que são as atividades de inverno. As melhores experiências em termos de lazer que eu tive neste país foram as atividades de inverno.

Vou guardar o lado difícil do inverno para um post futuro, este post fala sobre as atividades. Vou começar pelas atividades mais simples que todos podem fazer e gradualmente vou passar para as atividades mais complicadas.

Piscinas interiores

Essa não é bem uma atividade de inverno, mas foi algo que fazíamos pelo menos uma vez por semana: nadar!

A prefeitura de Gatineau mantêm várias piscinas interiores pela cidade durante o inverno. O único detalhe é que a água não é aquecida. O lugar onde a piscina está é aquecido e um pouco abafado, mas a água em si não tem aquecimento. É um pouco frio quando você entra, mas o corpo se acostuma bem rápido. Nós frequentávamos essas piscinas quase todo final de semana e fica bem lotado.

O uso da piscina, e várias outras atividades oferecidas pela prefeitura, é gratuito para quem tem a Carte Accès Gatineau plus.

Deslizar na neve

Creio que essa seja a atividade mais simples do inverno, crianças e adultos adoram. Em Francês é chamada de glissade e Inglês é snowtubing.




Essa atividade consiste em subir num morrinho ou ladeira cobertos de neve e deslizar sentando em alguma coisa.

A prefeitura mantêm áreas p/ a glissade em vários parques da cidade. Alguns deles (como o parque Beauchamp) emprestam o equipamento p/ a glissade (que é tipo uma bóia) gratuiatamente p/ quem tem a Carte Accès Gatineau plus.

Pode ser interessante comprar o seu "deslizador". Existem diversos tipos com todos os preços.

Caminhada na neve

Outra atividade muito interesssante é a caminhada na neve, também chamada de Raquette à neige em Francês ou Snowshoeing em Inglês. Assim como deslizar na nave, a caminhada na neve não exige experiência, mas você tem que ter as raquetes. Eu comprei para toda a família, se me lembro bem paguei uns 60$ por par.




A idéia da raquete é andar na natureza, num parque ou (para os mais avançados) na floresta. Gatineau tem várias trilhas para fazer raquete à neige, mas o povo também costuma se aventurar e fazer caminhadas na floresta sem uma trilha específica.


 

Patinação no gelo

Uma das atividades mais populares aqui, embora nem todos praticam, é patinar no gelo. Existem inúmeros lugares onde se pode praticar a patinação. A prefeitura de Gatineau mantêm dois tipos de pista de patinação, pistas externas e a pistas internas. As pistas externas são montadas em parques (quase todo bairro tem um parque) e seu acesso é gratuito a qualquer um em qualquer horário. As pistas internas normalmente são uma quadra de hockey no gelo que abrem um certo horário p/ o público (acesso gratuito com a Carte Accès Gatineau plus).




O povo também patina em rios e lagos, já que tudo congela no inverno. Isso pode ser um pouco perigoso, pois o gelo pode conter deformações, mas é bem divertido.

Agora, a região de Ottawa/Gatineau tem uma maravilha que é única: a maior pista de patiação ao céu aberto do mundo. O canal Rideau.


O canal Rideau, como todo rio e lago, congela no inverno. A prefeitura de Ottawa transforma uma parte do canal em psita de patinação. O resultado é uma pista de quase 8km de extensão. Ao longo do canal são instalados kiosques vendendo comida, café e sopas. Nos finais de semana que não está muito frio o canal fica completamente lotado!


Patinar no Rideau foi uma das experiências mais incríveis que eu já tive. Você patina, patina, patina e não acaba nunca.

Algo que vale a pena dizer, é que a patinação é bastante desafiadora p/ nós brasileiros. São muito poucos brasileiros que eu conheci que patinam. Se você sabe patinar em patins inline, vai conseguir patinar o básico no gelo. Se você nunca patinou e tem interesse, pode começar com patins inline.

Imagino que você deve estar se perguntando "ué, mas onde você aprender a patinar?" vou responder esse pergunta na próxima seção.

Hockey no gelo

Eu devo admitir que eu tenho uma pequena vantagem nessa história de patins. Quando era adolescente no Brasil, há uns 15 anos, meu esporte preferido era (e ainda é!) hockey. O motivo é que eu era jogador de um esporte conhecido como hockey inline. É hockey, mas jogado com patins inline.





Eu deixei de jogar hockey porque era muito caro e como comecei a trabalhar não tinha tempo de ir treinar. O hockey sempre foi minha paixão, mas num determinado momento eu percebi que não dava p/ continuar remando contra a maré.

Quando o inverno começou, eu pensei comigo "será que eu consigo patinar no gelo?". Comprei o patins, subi no gelo e... EU CONSEGUI PATINAR!!! Mesmo depois de mais de 15 anos sem colocar um patins no pé, eu consegui patinar no gelo. Claro, estava longe de estar patinando bem, mas eu conseguia fazer os movimentos básicos. Comecei a patinar de duas a três vezes por semana, até que eu fiquei razoalmente bom.

A próxima pergunta foi "será que eu consigo jogar hockey?". Lembram das pistas de patinação exteriores mantidas pela prefeitura? Eles também mantêm áreas p/ jogar hockey exteriores, totalmente grátis. A molecada aqui joga todo dia no inverno (desde que não esteja fazendo -30C). Um dia eu comprei o equipamento e fui até lá. Pedi p/ jogar e... JOGUEI! Incrível, não sei como descrever. Aqui vai uma foto da quadra de hockey exterior perto de onde moramos:




Eu fiquei tão animado que me cadastrei num curso de hockey no gelo oferecido pela prefeitura de Ottawa. Não é grátis, mas é um preço razoável. Já está no fim do curso e me cadastrei para o próximo nível. O próximo passo é entrar para uma das várias ligas de hockey amador que tem em Ottawa, mas isso é outra história.

Um comentário interessante é que ninguém aqui acredita que tem hockey no verão. Mas tem sim, tem hockey o ano inteiro.

Conclusão

Nós fizemos muita coisa nesse inverno. Nossa família teve mais lazer nesse inverno do que tínhamos no Brasil. Não vou dizer que o Inverno é minha estação preferida, mas as atividades de inverno foram o melhor lazer que tive aqui. Alguns brasileiros dizem que eu digo isso porque é o primeiro Inverno, depois vou passar a "detestar" o inverno. Acho muito difícil, mas só o tempo dirá.

domingo, 6 de abril de 2014

Experiência com o sistema de saúde em Gatineau

A saúde no Canadá era um dos assuntos que mais me preocupava enquanto estava no Brasil. Li muitos blogs criticando o sistema de saúde Canadense, principalmente no Québec. Para piorar, tinha lido em algum lugar que Gatineau tinha o pior sistema de saúde do Québec inteiro.

As críticas dos outros brasileiros podem até ser válidas, mas até agora nossa experiência tem sido positiva considerando a realidade do sistema daqui, a qual é bem diferente do Brasil.

A primeira diferença é que aqui o sistema de saúde é público, o qual inclui praticamente todo tratamento médico exceto dentista, oftalmo e algumas outras especialidades. Não existe sistema privado como no Brasil. Aqui no Canadá você obrigatoriamente tem que usar o sistema público. Existe sim planos privados chamados "seguro saúde", o qual é muitas vezes oferecido pelo seu empregador como benefício, mas esses planos cobrem apenas serviços não oferecidos pelo sistema público como dentista, medicamentos, oftalmo, serviços psicológicos e etc.

A segunda diferença entre a saúde no Brasil e no Canadá é que existem hospitais e existem clínicas. A recomendação é de apenas ir para o hospital se o caso for muito sério. Digamos, você acha que quebrou alguma coisa ou está muito, mas muito mal ao ponto de ser necessário ver um médico imediatamente. Para todos os outros casos (gripes, febrezinha, mal estar, etc) você deve ir p/ uma clínica, que é onde você vai ser consultado por um clínico geral.  Agora, existem vários tipos de clínicas: clínicas só com horário agendado, clínicas que só aceitam pacientes pré-registrados com a clínica e clínicas que aceitam qualquer um por ordem de chegada. Não se preocupe se isso está confuso, chegando aqui você vai entender melhor.

O que acontece se você for p/ o hospital sem ter necessidade? Muito provavelmente você vai esperar, muito. Logo quando você chega no hospital eles fazem uma triagem e tentam atender as pessoas por ordem de gravidade. Existem esperas de 2 horas, de 5 horas e já ouvi falar em mais de 10 horas. Na clínica, você pode ser atendido em menos de 1 hora. Mas lá só tem um clinico geral. Aliás, essa longa espera é uma das principais reclamações dos brasileiros aqui, pois muito raramente alguém com plano privado no Brasil espera muito. Mas aqui o presidente da sua empresa e o faxineiro vão receber o mesmo tratamento. Não acredita? Aqui é primeiro mundo, no geral os direitos são respeitados.

Agora vamos falar de Gatineau e das nossas experiências.

Gatineau tem dois hospitais, o Hospital de Gatineau e o Hospital de Hull. Nós nunca usamos nenhum dos dois. Ouvimos dizer que a espera costuma ser muito longa. Uma professora de Francês que eu tive logo quando cheguei aqui estava com suspeita de pneumonia e foi no hospital de Hull, esperou 12 horas!

Para quem mora em Gatineau o segredo é ir p/ Ottawa quando for possível. O Hospital Monfort em Ottawa é totalmente bilingue e aceita a carteira de saúde do Québec. Sim, quem é do Québec não paga nada lá (ao contrário do que ouvi dizer quando estava no Brasil). Minha esposa caiu na neve e achou que tinha quebrado o cóccix. Fomos no Monfort. O atendimento completo contando espera, raio-x, e consulta, demorou 3 horas. Ela não chegou a fraturar.

Uma outra vez, minha esposa estava bem gripada. Ouvi dizer que tem uma clínica em Gatineau, mas decidimos ir na Sunrise Medical Clinic em Ottawa, a qual também aceita a carteirinha do Québec. Tanto o médico como a secretária são bilingues. Minha esposa foi consultada e diagnosticada, esperou uma hora e meia.

Eu também tive uma experiência, e a minha experiência foi com um especialista aqui em Gatineau. Eu estava com uma dor absurda de dente, fui no dentista mas não era problema no dente. Eu estava com acúmulo de muco na face, o que causava dor no dente. O dentista me passou p/ um otorrino. Esperei 2 meses pela consulta (que parece ser a média no Canadá inteiro). Essa consulta foi em Gatineau, porque consulta com especialistas tem que ser aqui. O médico me medicou e disse que precisa ver dentro da minha face com uma camêra, marcou p/ mim no Hopistal de Gatineau p/ 3 meses depois.

Nosso filho também precisou ir ao médico, e foi logo quando chegamos e não sabíamos nada sobre hospital vs. clínica. Levamos ele no CHEO, Children's Hospital, em Ottawa. O qual também aceita a carteirinha do Québec, mas a médica falava apenas Inglês e deu uma bronca por termos ido ao Hospital ao invés de uma clínica. Aliás, o CHEO é uma referência em Ontário, faz pesquisa na área de saúde e parece ser excelente.

Tem mais algumas diferenças entre o Canadá e o Brasil que eu gostaria de mencionar. Aqui não existe vender remédio que precisa de prescrição sem a prescrição. Nem adianta insistir, simplesmente não existe. Outro detalhe, se a prescrição dizer que você precisa de 10 comprimidos, a farmácia vai te dar 10 comprimidos. E finalmente, na nossa experiência os médicos aqui são bem diferentes dos médicos do Brasil no que diz respeito a simpatia, atenção e carisma. Não vou dizer que um é pior e o outro é melhor, mas a gente sente a diferença. No geral, aqui é tudo muito objetivo, sem muito sorrizinho e conversa mole. Você descreve o que tem, o médico faz perguntas e diz o diagnóstico.

Faltou falar do médico de família, que teoricamente é um médico que acompanha sua família e é alguém que você pode se consultar se precisar. Mas aparentemente isso não existe aqui em Gatineau, então não tenho nenhuma informação sobre o assunto.

Por fim, existe uma proposta para abrir uma faculdade de medicina em Gatineau. Isso possivelmente traria mais um hospital e talvez mais médicos para a região. Eu duvido muito que os médicos ficariam por aqui, mas enfim, é algo muito positivo para a região.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Accueil

Não acredito que fiquei quase um ano sem escrever no blog! Meu plano era continuar documentando todas as nossas experiências, mas a falta de tempo venceu... Enfim.

Tem um assunto que faz tempo que queria escrever aqui, que é o início da vida escolar das crianças imigrantes. Eu já falei um pouco sobre isso, mas não lembro o quanto então vou tentar fazer um post mais completo.

As crianças imigrantes que chegam no Québec e não falam o Francês vão para um curso especial chamado Accueil ("acolhimento" em Português). O objetivo desse curso é aprender Francês e a cultura do Québec. A duração depende da idade da criança, mas muita gente fica no mínimo um ano.

Nosso filho tinha 6 anos quando chegamos aqui e tinha acabado de terminar o primeiro ano no Brasil. Ele já sabia ler e escrever, e amava muito ir para a escola.

Aqui no Canadá criança e mulher tem prioridade em tudo, então nem pense naquelas burocracias do Brasil para inscrever seu filho no accueil. Pelo menos aqui em Gatineau é só ir na escola mais próxima com alguns documentos, fazer a inscrição e aguardar o telefonema.

No nosso caso alguém da comissão escolar ligou uns dois dias depois, já tinham a data de início do nosso filho e informações sobre o transporte escolar que é uma vanzinha do tipo que existe no Brasil. Aqui você tem direito a transporte escolar se mora mais longe do que 800 metros da escola. Normalmente as famílias moram no mesmo bairro onde os filhos estudam, mas no caso do Accueil só tem duas escolas em Gatineau que oferecem o curso, então é provavel que você vai precisar do transporte. É uma vanzinha, que leva e trás a criança. Funciona muito bem, e é grátis.

Agora vamos falar sobre a parte ruim. A escola que oferece esse curso aqui em Gatineau não é muito boa. Aqui no Canadá a qualidade da escola está ligada com a qualidade do bairro. Eles chamam os bairro ruins de quartier defavorisé ('bairro desfavorecido"), que são bairros onde as pessoas tem renda baixa e/ou vivem  de ajuda do governo. A maior escola que oferece o Accueil em Gatineau fica num bairro assim. Quando entrei na escola a primeira vez, tive a impressão de estar visitando uma escola pública no Brasil, e não foi um sentimento bom.

Eu pensei "bom, o que importa é ele ter um bom curso". Mas aí veio outra decepção. A classe era uma mistura de várias idades e vários níveis de escolaridade diferentes, com crianças de toda parte do mundo. Havia crianças com nível muito bom, estudando com crianças que mal tinham tido  oportunidade de estudar até então. Um conhecido brasileiro ficou revoltando, ao ponto de tirar o filho de lá e tentar pular a fase do accueil (isso não é regra e não é recomendado, não sei o que deu).

E para piorar, nosso filho detestou tudo isso. Ele chorava e não queria ir p/ a escola. Em parte isso é uma fase normal, pois ele não entedia nada do que falavam. Mas mesmo assim, dói na gente que é pai e mãe. Ele voltava da escola pendindo p/ voltar p/ o Brasil, não queria estudar e não queria assistir TV em Francês (o que era recomendado pela professora).

Foi uma fase bem difícil, durou um pouco mais de um mês. Lá para o segundo e terceiro mês, ele começou a falar um pouco de Francês e começamos a conseguir fazê-lo estudar. Aí fizemos algo que foi chave para melhorar a integração dele: como já era primavera, os parques do nosso bairro abriram e começamos a levar ele para brincar com as crianças nativas. Fazíamos isso todo dia e começamos a estudar forte com ele em casa.

Vieram as férias de verão no meio do ano. Ele já estava com um nível bom de Francês e tinha começado a gostar da escola de Accueil, pois ele começou a fazer amiguinhos e a se integrar melhor no dia a dia da escola. Nas férias ele foi p/ a colônia de férias do governo, onde ele ficou bem imerso com crianças nativas.

Na volta as aulas, ele estava bem empolgado e aí foi quando ele deslanchou de vez. Parou de ver qualquer coisa em Português no computador e passou a assistir TV como assistia no Brasil (mas com programas daqui). Ele começou a misturar o Francês o Português quando brincava sozinho, agora é bem raro ele usar o Português para brincar, mesmo quando brinca com a gente.

Em Novembro veio a grande surpresa. Fomos chamados na escola e recebemos a notícia que devido ao ótimo desempenho do nosso filho, ele estava apto a ser transferido para a escola normal! Nós ficamos imensamente felizes, primeiro pela conquista dele, segundo porque ele iria estudar na escola do nosso bairro, que é uma escola excelente.

Você consegue imaginar como ele recebeu essa notícia?

Ele não queria mudar! Ele chorou, brigou, ele queria ficar lá! Aí passamos por outra fase de ter que convênce-lo que a mudança seria melhor para ele. Até que ele aceitou.

A nova escola é muito boa, mesmo. O primeiro mês foi um pouco difícil, porque ele esqueceu um pouco de matemática e outras coisas, mas ele já recuperou. Hoje, eu creio que posso dizer que ele é totalmente fluente em Francês e o Francês dele é infinitamente melhor que o meu. Ah, ele não gosta de ir à Ottawa, porque o povo lá fala Inglês :)

Agora, tem um outro lado. Quando estamos no Brasil, soa bonito dizer que nosso filho fala outra língua. É uma habilidade que todo pai quer que o filho tenha. Mas aqui a língua não vem sozinha. Dia a dia, pouco a pouco, eu vejo a nossa cultura brasileira desaparecer no nosso filho. Pouco a pouco, ele não entende uma piada. Pouco a pouco, ele esquece um desenho que ele gostava. Esquece uma palavra, esquece como dizer algo. Pouco a pouco, ele está adquirindo uma outra cultura. Uma cultura que é diferente para nós adultos, e muito provavelmente nunca a teremos por completo. Isso não é algo ruim nem algo bom. É apenas um fato que foi um tanto inesperado por mim.